Associações, clubes e grupos de radiocomunicações cidadãs e / ou amadoras

Cada cidadão tem os seus gostos e modos de vida, resultantes essencialmente da sua educação, vivências e, há quem diga que também influenciado pela genética. No que respeita à radiodifusão ou televisão, cada um de nós identifica-se mais com determinadas estações que com outras fazendo isso parte da natureza humana e, estando mesmo constitucionalmente consagrado. Não obstante a isto, o ouvinte ou telespectador, são influenciáveis por diferentes estratégias que visam essencialmente o lucro dos investidores através do facto que mais influencia os contratos de publicidade, as audiências.

Nas radiocomunicações cidadãs (CB27, PMR446, LPD433,…), ou nas Amadoras, o que se passa não é muito diferente, as Associações procuram cativar mais Associados através dos seus programas de atividades. No caso dos grupos informais e também dos clandestinos, tentam competir com as Associações não através do cumprimento das obrigações legais, mas sim do que lhes possibilita maior notoriedade e mais seguidores.

Com exceção dos grupos clandestinos que funcionam à margem da Lei e assim representam a marginalidade nas radiocomunicações, tudo o resto é natural na vida em sociedade, sendo a concorrência desejável e geradora de desenvolvimento, mesmo que isso represente a extinção de algumas organizações e surgimento de outras, é a “Lei da livre concorrência”.

Não pode considera-se, contudo, que o desenvolvimento da clandestinidade fomentado pela ausência de ética e moralidade das organizações clandestinas, possa ser aceite como desenvolvimento salutar à concorrência, tal como não pode considerar-se que os assaltos são bons porque são geradores de desenvolvimento na indústria da segurança.

Voltando-nos a focar no público, é natural e desejável que cada radioperador ou radioamador opte por se juntar à Associação com que mais se identifica, ou seja que está mais próxima da sua identidade. Tal como numa estação de radiodifusão, os temas dos programas, os estilos musicais prendem uns e afastam outros, numa Associação de Radiocomunicações Cidadãs e/ou Amadoras, cada um avalia o quão próximas e interessantes as atividades desenvolvidas suscitam o seu interesse e participação.

Há por isso organizações no âmbito das radiocomunicações para todos os gostos, até mesmo para quem não pratica atividade nenhuma, mas apenas quer apoiar e fazer parte de um movimento populista.

No mundo quotidiano as mutações sociológicas surgem a uma velocidade alucinante e, o mundo das radiocomunicações não é imune a essas mutações, existindo organizações éticas, organizações que aliam o elevado valor técnico e/ou mesmo científico, as que somente desenvolvem atividade lúdica, as que são geradoras de desenvolvimento seja ele técnico e/ou de boas práticas, bem como, infelizmente as que potenciam a ilegalidade e as práticas funestas ao interesse público.

A APROSOC, não sendo uma Associação de radioamadores (por opção), mas sendo também uma Associação para as radiocomunicações, tem uma identidade própria e marcada por valores éticos, conservadora das boas práticas técnicas e da legalidade, não se coadunando com o oposto, dai não ser tão popular quanto outras até porque, a popularidade não é um valor merecedor da atenção de quem dirige esta Associação. Prezamos mais valores como os da reciprocidade, fidelidade, humanidade, amizade fraterna, ajuda de proximidade, legalidade, ética e boas práticas. Nestas não se enquadram a Lei do mais forte, nem os Watts de potência que o dinheiro pode comprar. Porque acreditamos que, entre o que os limites da vida em sociedade nos possibilitam e, os limites que o dinheiro pode comprar, existe a barreira da ética e da legalidade.

Por exemplo, nada há de ético e, muito menos de legal, no uso de um equipamento de radioamador em CB, embora este seja o sonho de muito utilizadores do CB, a prática de muitos radioamadores e, a pratica mais comum nos que não são radioamadores, mas têm capacidade económica para isso.

Nada há de correto em se passar por um processo de exame para radioamador, que deveria distinguir esse dos demais usufrutuários das radiocomunicações e, não coloca em prática os mais elementares procedimentos radiotelefónicos.

Nada há de amigável em abafar a receção de um vizinho seja lá em que banda for pelo efeito de blocking resultando da potência excessiva ou mesmo pelo espalhamento da largura de banda.

Para a maioria está tudo bem e nada há de errado nestas práticas que, contudo, no mínimo não são éticas, seguramente não são cordiais e eventualmente não serão legais. Deveria, eventualmente nisto, que o ser dito humano se deveria distinguir dos demais animais, ou não! Claro está, na opinião do Presidente da Direção desta humilde Associação.

João Paulo Saraiva