Arquivo mensal: Março 2024

A utilidade dos exercícios de radiocomunicações de emergência

Artigo de opinião de: João Paulo Saraiva
Presidente da Direção da APROSOC
CT1EBZ | Raio#1

Existem diferentes utilidades nos exercícios de radiocomunicações de emergência, desde logo praticar a operação cumprindo os procedimentos radiotelefónicos normalizados, sendo este o tipo de exercício mais comum. Por outro lado os exercícios de teste de cobertura, que idealmente devem testar a cobertura de estações base, mas cuja maior utilidade é mesmo a cobertura local de estações móveis e portáteis idealmente ao nível de bairro ou, no limite, ao nível de freguesia ou concelho, quer na comunicação entre membros da comunidade ou, na ligação de membros da comunidade aos diferentes serviços essenciais, bem como de emergência e proteção civil, através do posicionamento de membros da comunidade munidos de meios de radiocomunicação junto desses serviços, como sejam: Junta de Freguesia (Unidade Local de Proteção Civil, Bombeiros, Cruz Vermelha, INEM, Serviço Municipal de Proteção Civil, Posto de Comando, Posto de Saúde, Posto ou Esquadra Policial, Hospital, fornecedores de logística, Zona de Concentração e Apoio Psicossocial (ZCAP), entre outros.

A realização de exercícios fora destes conceitos, eterniza o ciclo de exercícios sem aplicabilidade prática para situações reais, a pensar na mobilização dos serviços de proteção civil que pode nunca ocorrer ainda que o estado de necessidade exista. A realização de exercícios autónomos das estruturas governamentais a pensar nas necessidades das populações ao invés das necessidades dos serviços, viabilizam sempre a utilidade prática ao invés dos demais, logo, a utilidade dos exercícios de radiocomunicações, depende mais de quem os organiza do que de quem nas estruturas governamentais eventualmente um dia possa solicitar o seu acionamento.   Contudo, a realização de exercícios de radiocomunicações de emergência com utilidade real, depende sempre da mobilização de participantes em grande número, sendo este na atualidade o grande desafio para as organizações de radiocomunicações, encontrar a fórmula mágica para atrair a mobilização em massa com coincidentes disponibilidades dos participantes, isto porque a sociedade de um modo geral e o patronato em particular, não compreende que este seria um motivo sobejamente nobre para por exemplo justificar no dia do exercido a falta ao trabalho.
A proficiência na mobilização de dispositivos organizados de resposta às radiocomunicações de emergência em caso de desastre pode poupar vidas e bens mas, o sistema público não está preparado para admitir que nessas situações não tem capacidade e que, em caso de falha das telecomunicações de acesso público, sem resposta cidadã organizada para as radiocomunicações de emergência, muitos pedidos de ajuda ou socorro nunca chegarão atempadamente a quem deviam chegar.

Sobre o plano 3-3-3 (prepper)

O programa de comunicações 3-3-3 prepper (preparador) é interessante, contudo, viabiliza denunciar alguns dos sigilos dos membros da sua comunidade prepper, tais como a localização, entre outros que nem convém abordar.

Uma comunidade preparada (prepper) tem alguns cuidados elementares tais como o não exibicionismo, o secretismo do seu plano, incluindo locais de encontro, locais estratégicos de comunicação entre outros. Denunciar ao publico participante em treinos ou exercícios ainda que subconscientemente alguns destes pormenores, pode significar em situação real de caos social comprometer a sua segurança e da sua comunidade preparada, a menos que a comunidade se encontre num local remoto e de difícil acesso.

Se repararmos, a maioria dos Preppers mais seguidos nas redes sociais que dão a cara para contribuir para que outros se preparem, fazem-no em estúdios ou, em locais remotos cuja localização aproximada ou exata não é revelada, pois sabem que disso depende a sua segurança. Se dissermos que estamos a operar a partir de Tomar, numa quinta, qualquer um nas imediações vai tomar atenção a antenas em edifícios em quintas, aumentando a probabilidade de se tornar um alvo de assalto em caso de caos social.

Se revelarmos a nossa localização habitual, mas não o local das nossas reservas logísticas de emergência, estamos a desviar as atenções das reservas e a concentrar as atenções no local que quando “SHTF” vamos abandonar de imediato para nos mantermos seguros, local ou locais esses que somente a nossa comunidade deve saber de que se trata. Sim locais, porque devemos ter alternativas.

Quando falamos de preparação pura e dura, também o plano de comunicações deve ser somente do conhecimento da comunidade e, deve incluir meios com encriptação, de outro modo, tudo o que se preparou e planeou pode estar em risco.  Ainda sobre radiocomunicações, a fiabilidade dos equipamentos selecionados para o efeito, está longe de se compatibilizar com a esmagadora maioria dos equipamentos mais económicos e populares e, raros são os utilizadores que compreendem toda a dimensão dos fatores imprescindíveis, bem como os modos de manutenção e conservação face aos riscos e ao desgaste natural de que todos os equipamentos sofrem. Se por um lado abordar estas questões em público poderia ajudar muitos outros a preparar-se, por outro, isso retiraria a vantagem das comunidades preparadas sobre os demais, sabendo-se que, a maioria dos cidadãos não se interessam por estes assuntos e que, tais revelações prejudicariam eventualmente os que verdadeiramente se preparam.

Alguém que se anuncia publicamente como um prepper e que se conhece onde trabalha, mora, ou tem uma habitação alternativa, está longe de ser um prepper, pois um cidadão efetivamente em preparação não anuncia a sete ventos, até porque, nunca alguém está totalmente preparado, a preparação é uma constante e, implica alguma capacidade económica, preparação mental, física e aquisição continua de skills e, a divulgação através de redes sociais ou meios de radiocomunicação pode comprometer todo o trabalho desenvolvido.

A localização do teu “bunker” e os teus canais de radiocomunicação, não devem ser alvo das atenções alheias.

Não existem planos perfeitos, pois cada situação de pode validar a adequação para esse risco ou a inadequação para esse ou outros riscos não equacionados, contudo, quanto menos os outros souberem sobre a tua comunidade, ou até acreditarem em ações de desinformação, maior a probabilidade de sobrevivência e felicidade.

É somente uma opinião, vale o que vale!

3-3-3 Radio Plan for SHTF Communications

DON nº 3 não é revista desde outubro de 2010 e está desatualizada

Desde Outubro de 2010 que a Diretiva Operacional Nacional sobre riscos nucleares, radiológicos, biológicos e químicos (NRBQ) não é revista. Os boys partidariamente ali colocados nem com uma pandemia, nem com o risco de uso de armas nucleares por parte da Rússia, tiraram os “ovos debaixo dos braços” para fazer algo. e, para a Sr.ª Secretária de Estado da Proteção Civil tudo vai bem.
Aquela dita autoridade limita-se a gerir tropas alheias e a incumprir a sua missão no que concerne à estratégia nacional de prevenção, mitigação e preparação.
Os cidadãos estão à mercê da própria sorte, enquanto isso recomendam que sejam sócios dos Bombeiros, da N.Sr.ª de Fátima de de outros santos protetores!

https://prociv.gov.pt/pt/documentacao/diretiva-operacional-nacional-n%C2%BA-3-nrbq/

DIA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO CIVIL

Neste Dia Internacional da Proteção Civil, convém não esquecer que em Portugal a maioria dos municípios não cumpre as suas competências e atribuições em proteção civil e que, os que cumprem não o fazem em toda a latitude, em especial no que concerne à prevenção e sensibilização dos seus munícipes para os riscos coletivos.  Saliente-se ainda que a própria “Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil” centra a sua atividade na gestão de meios que não lhe pertencem, uma espécie que quartel general sem tropas próprias e que, ao invés de seguir exemplos como por exemplo da FEMA – Federal Emergency Management Agency, no que concerne à preparação dos cidadãos para o risco, se dedica mais às montras de vaidades e promoção político partidária que à sua função essencial.

Para a APROSOC – Associação de Proteção Civil, enquanto a estrutura de proteção civil estiver dominada por pessoal das operações de socorro, não teremos nem proteção civil nem operações de socorro de que o país se deva orgulhar. Só com uma cidadania proativa em proteção civil, cada vez mais desperta e capaz fazer acontecer e exigir dos seus governantes, a proteção civil seremos de facto todos nós.