ARTIGO DE OPINIÃO: RADIOAMADORES PODEM SER MELHORES UTILIZADORES DAS BANDAS QUE LHES ESTÃO CONSIGNADAS?

Observam-se frequentemente radioamadores a ignorar as frequências designadas pelas federações internacionais como destinadas a chamada e a nelas fazer comunicações comuns e prolongadas, por outro lado é muito frequente encontrar-mos alguns a comunicar em banda larga (modo wide geralmente a 25kHz) em segmentos de banda estreita de 10 ou 12,5kHz, o que por um lado pode denotar desconhecimento, mas por outro pode revelar incapacidade técnica já que muitos usam equipamentos antigos com espaçamento largo. Contudo, neste último caso, era suposto que o radioamador que não seja capaz de construir equipamentos, pelo menos fosse capaz de os ajustar, por exemplo reduzir o nível de desvio de modelação de frequência de 5kHz para 2,5kHz, ou mesmo trocar o filtro de receção de modo wide para modo narrow.
Muitos radioamadores desconhecem ainda que existam em algumas bandas, por exemplo na de VHF alto (145MHz) segmentos dedicados ao modo wide, operando erradamente e ocupando e canais do 12,5kHz ao invés de ocupar somente um canal de 12,5kHz ou mesmo apenas um canal de 25kHz no segmento dedicado a essa canalização em modo wide.

São por vezes (mas não se podendo generalizar) os próprios dirigentes de Associações de Radioamadores ou radioamadores mais antigos que não dão o melhor exemplo e desvalorizam mesmo estes aspetos entendendo que a ocupação desregrada das bandas de rádio amador é um mal menor, para a APROSOC nada podia estar mais errado mas, o facto de a APROSOC ser uma Associação com Radioamadores mas não de Radioamadores, faz com que as Associações de Radioamadores desvalorizem a nossa opinião, as típicas discriminações que olham mais a rótulos do que à razão.

Na atualidade se alguém estiver a operar com um bom equipamento profissional por exemplo de VHF, daqueles com uma excelente rejeição em relação ao canal adjacente, recebe as comunicações da maioria dos radioamadores nos segmentos de banda destinados ao modo narrow com cortes que inviabilizam a compreensibilidade da comunicação e, por vezes quando se informam esses radioamadores ainda respondem “eu opero como bem entender”, numa atitude de total desrespeito pelos demais e que atesta a ignorância da articulação da Lei com as diretrizes internacionais ratificadas pelo Estado Português.

Embora descrito no sentido negativo que me é peculiar na escrita, neste texto é possível o radioamador encontrar duas formas de usar mais inteligentemente e de modo mais respeitador das Leis nacionais e diretrizes internacionais, ou seja, de forma corretamente mais técnica, o que não é exigível a um radioperador do CB ou PMR446 por não lhe ser exigível conhecimento técnico para operar o seu eletrodoméstico, mas que deveriam ser conhecimentos diferenciadores dos Radioamadores em relação aos Radioperadores das bandas livres, ou seja ainda, na prática muitos radioamadores são puros Radioperadores do CB ou PMR446 a operar em bandas de rádio amador.

Voltando ao papel das Associações, são as mesmas muitas vezes a promover a incorreção, com concursos em frequência de chamada sem mudar para outra após a chamada ser correspondida, ou mesmo a não indicar a operação em modo narrow ocupando assim mais canais por vezes sob o argumento rebuscado de que em modo narrow a qualidade de áudio é inferior confundindo assim radioamadorismo com radiodifusão, pois em muitos casos estão na atividade errada, o seu sonho seria provavelmente ser locutor de rádio e não Radioamador.

Por falar em radiodifusão, raramente os tempos máximos de emissão contínua são respeitados, os circuitos tx timer ou timer em muitos equipamentos ou não existem ou não estão ativados, fazendo com que os tempos de transmissão contínua sejam por vezes intermináveis, numa clara violação dos 180 segundos convencionados, monopolização sa frequência, o que em caso de transmissão acidental ou por avaria inutiliza a frequência durante um indeterminável período de tempo, ficando portanto aqui a terceira dica sobre melhor uso das bandas de rádio amador.

Na realidade na atualidade não se observa qualquer ação pedagógica por parte de qualquer Associação de Radioamadores, tendo-se essas sofrido uma mutação sociológica para meros clubes em torno das atividades que se alheiam por completo sobre a proficuidade dessas atividades, sendo por isso parte do problema, mas não parte da solução, ou seja, as Associações de Radioamadores têm hoje mais de Associações de Informática do que de rádio amadorismo.

Na realidade quando falamos de Associações falamos de pessoas porque, as Associações são a súmula do trabalho individual de cada um dos seus Associados para os fins comuns estatutariamente prosseguidos e, se por um lado há competências que estão no âmbito das atribuições da autoridade administrativa de comunicações do Estado, por outro lado a ação cívica de promoção das boas práticas a todos compete e, por falar em boas práticas, é bom nem falarmos de procedimentos radiotelefónicos que todo o radioamador foi “obrigado” a estudar, mas em que o que se ouve nas frequências por vezes não são mais do que macanudos do canal 34 do CB em frequências de radioamador, sendo total a inércia das Associações de Radioamadores para combater a anarquia de operação que a todos nos deve envergonhar dentro e fora das fronteiras geográficas do território português. É um facto que este não é um fenómeno exclusivamente português, mas é aos portugueses que compete trabalhar a imagem internacional, se pretendem uma imagem de exemplo a seguir ou, a imagem daquele país pequenito ali ao fundo da Europa, subsídio-dependente e que tem um tal Ronaldo de dá bons pontapés na bola.

Há por vezes a sensação de que as frequências de radioamador estão pouco ocupadas e que por isso tudo o que acima foi descrito se justifica, pois bem, talvez o facto de as frequências não estarem mais ocupadas se deva, também, ao facto de muitos radioamadores estarem a operar com equipamentos de radioamador em frequências de PMR446, em frequências de CB, ou mesmo em frequências ilegais (27.555MHz por exemplo), violando assim aquele que deveria ser o código de honra de qualquer radioamador, pois, honra, mas qual honra?!

Outrora os Radioamadores eram visto como embaixadores de Portugal lá fora, e na atualidade?

Está nas mãos, mente e  boca de cada radioamador fazer diferente, fazer melhor e utilizar o efeito de contágio para dignificar o rádio amadorismo, e não para o invés.

Já agora, talvez valha a pena pensar nisto, digo eu, que não percebo nada disto!

João Paulo Saraiva
Radioamador CT1EBZ (às vezes)