CARTA ABERTA À ASSEMBLEIA DE REPÚBLICA | ESTUDANTE DE 18 ANOS MORRE EM LEIRIA APÓS CORTE COM VIDRO

Ex.mos(as) membros dos grupos parlamentares da Assembleia da República Portuguesa
Vimos pelo presente apelar à atenção de V.exas para o seguinte caso:
“Um jovem estudante de solicitadoria de 18 anos morreu esta quinta-feira em Leiria depois de dar entrada no hospital com ferimentos graves causados por corte de uma veia com vidro.
Fonte da PSP afirmou que os ferimentos terão sido resultado da prática de praxes académicas, que terão ocorrido no interior da residência estudantil. Foi pedida a investigação da Polícia Judiciária (PJ) de Leiria que não descarta a hipótese de ter sido um acidente sem ação criminosa.
O jovem deu entrada no Hospital Distrital de Leiria cerca das 20:00 de quinta-feira, em estado muito grave e o óbito foi confirmado minutos depois.
A família do jovem e os colegas estão a receber apoio psicológico.”
Ex.mos(as) Senhores(as) deputados(as), a falta de ação efetiva da Assembleia da República nestas matérias em que, para além de legislar é necessário que as medidas adotadas sejam acompanhadas de um pacote orçamental que possibilite concretizar as ações de formação e materializar as competências de socorrismo, mancham em nossa opinião de sangue todos os que aprovam diplomas legais insuficientemente dotados dos indispensáveis instrumentos de efetivação dos objetivos finais, no caso o de salvar vidas.
A atual legislação só por si é inócua e não salva-vidas. Para os alunos, na maioria das escolas do país, o suporte básico de vida é somente mais uma matéria que têm de estudar para o teste, e não é interiorizado como algo que evita mortes, nem sequer têm oportunidade de praticar a aplicação de um torniquete ou hemostático químico no controlo de uma hemorragia arterial que podia ter salvo este jovem.
Quantas vidas mais têm de se perder para que se proíbam as praxes sejam académicas, militares ou outras?
Quantas vidas mais têm de se perder até que se crie um programa nacional de socorrismo nas escolas que seja mais do que teoria e confira competências efetivas aos alunos e profissionais do sistema educativo por exemplo no controle de hemorragias arteriais?
Transpôs-se e bem para manuais escolares as guide-lines do INEM sobre suporte básico de vida, mas isso não aliado a práticas e validação de conhecimentos práticos e existência dos equipamentos de socorro possibilita por exemplo evitar mortes como esta?
Para quando o financiamento das Organizações de Voluntariado de Proteção Civil e outras entidades que têm a disponibilidade e meios para realizar estas ações, ao invés de alimentar os interesses instalados e que privilegiam empresas com ligações maçónicas ou religiosas, ou deixa na mão do INEM e Bombeiros uma missão para a qual não têm disponibilidade adequada? Quando acabam os lobbies em torno de algo tão vital quanto o dever de salvar vidas?

Um torniquete custa 5€, um hemostático químico custa 15€, e uma vida perdida quanto custa?

Aproveitamos a oportunidade  para endereçar aos familiares e amigos da vítima, as nossas sentidas condolências.

João Paulo Saraiva
Presidente da Direção