O papel da mulher na proteção civil

O papel da mulher na proteção civil é mais vasto do que aparenta. Comumente o papel da mulher na proteção civil é visto pelos rostos femininos que integram as fileiras dos agentes de proteção civil, esquecendo todas as que lá em casa asseguram a organização das reservas de bens essenciais em caso de emergência ou catástrofe, sendo o atual contexto pandémico bastante revelador dessa capacidade nata que a esmagadora maioria das mulheres têm na preparação preventiva. Mas esquece ainda que para que homens possam integrar as fileiras dos agentes e entidades com especial dever de cooperação em proteção civil, alguém têm de assegurar a gestão doméstica, a educação, alimentação, saúde e bem-estar de filhos e outros familiares dependentes dos casais tradicionais, recaindo geralmente tais funções sobre as mulheres que revelam geralmente nesse domínio competências raramente devidamente reconhecidas.

Tanto na linha da frente das operações de proteção civil e socorro, quanto no apoio de retaguarda na proteção civil e socorro, no lar e até anímico, a mulher tem um papel que importa valorizar na sociedade.

A proteção civil começa na preparação, e nesse campo a mulher é por natureza competente, mas também o é na prevenção, na intervenção e na resiliência, aliás, por falar em resiliência a mulher é disso talvez o melhor exemplo.

A igualdade entre homens e mulheres ainda não é uma realidade, em parte devido as diferenças da natureza que distingue ambos os seres, contudo, muito pode ser feito para aproximar os direitos das mulheres na participação das atividades de proteção civil, através de apoios e compensações na gravidez e maternidade, bem como numa mais justa partição das tarefas e responsabilidades domésticas e familiares que apesar de muito se ter evoluído neste sentido, muito está ainda por fazer, faltando a quem tem o poder legislativo a coragem de colocar em prática a política igualitária de direitos de mulheres e homens.

Fixar quota de paridade no emprego ou da remuneração só por si não assegura a igualdade entre mulheres e homens, é necessário fixar quotas igualitárias das responsabilidades de ambos, sem esquecer as necessárias compensações pelo que decorre das diferentes características naturais de ambos e que geralmente desfavorece a liberdade da mulher no seu quotidiano.

“Feliz dia da mulher” deve ser mais do que uma expressão num dia ao longo de um ano com mais de três centenas e meia de dias, deve ser uma realidade constante no quotidiano das mulheres.

Neste dia da mulher, recordamos todos os sacrifícios feitos pelas mulheres na proteção civil, algumas das quais que trabalham mais para poder estar na linha da frente dos serviços e agentes de proteção civil, algumas das quais que abdicaram de ser mães ou ter mais um filho para poder manter essa condição, algumas das quais que perderam o emprego por ficarem grávidas ou dado à luz, como se não fosse suficientemente penalizador para ter a alegria de ser mãe ficar privada de exercer funções que lhe são aprazíveis.

Não podemos ainda neste dia deixar de salientar o papel da mulher progenitora de todos aqueles que nos agentes e serviços de proteção civil ou nas organizações de voluntariado de proteção civil prestam serviço, pois, independente da entidade todos sem exceção tiveram como progenitora uma mulher, na maioria do casos corresponsável pelo que se tornaram na vida e na proteção civil.

Sem a presença do ser feminino a proteção civil não teria equilíbrio, mas esse equilíbrio pode e deve ser aprofundado através de mecanismos de aproximação e discriminação positiva da mulher na sua disponibilidade para o voluntariado e exercício de atividades profissionais no âmbito da proteção civil, ficando por isso o apelo desta Associação para que nos recordemos todos os dias da necessidade de trabalhar nesse sentido, para que um dia alcancemos um 8 de março em que se comemore a concretização da igualdade em detrimento de apenas se recordar um dia por ano essa necessidade.

Feliz dia da mulher desejamos a todas as mulheres, com um reconhecimento especial a todas as mulheres que integram os serviços e agentes de proteção civil, bem como a todas as que integram as organizações de voluntariado de proteção civil, agradecemos o facto de o país poder contar convosco.

João Paulo Saraiva
Presidente da Direção da APROSOC