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ALDEIAS SEGURAS (continuação)

  1. Em 2006 a Lei de Bases de Proteção Civil 27/2006 considera no seu artigo 43 a possibilidade de criação pelas comissões municipais de proteção civil de ULPC;
  2. Em 2007 a Lei 65/2007 que define o enquadramento institucional e operacional da proteção civil no âmbito municipal, estabelece a organização dos serviços municipais de proteção civil e, considera no seu artigo 8º as ULPC;
  3. Em 2015 através da Revisão da Lei de Bases de Proteção Civil, o Governo reconhece a existência de organizações de voluntariado de proteção civil de base particular e, em 2017 regulamenta-as através da portaria 91/2017;
  4. Em 2018, inspirado na recomendação da APROSOC para um programa “aldeias resilientes” o Governo cria à margem das ULPC e das OVPC o programa “Aldeias Seguras e Pessoas Seguras” criando assim uma carta fora do baralho, desincentivando assim em nossa opinião, a constituição e desenvolvimento das ULPC, naquilo que deviam ser também as suas funções no vasto leque de tarefas que lhes podem competir;
  5. Em 2019 na sequência de diversos apelos da APROSOC e não só, o Governo reforça através do Decreto-Lei 44/2019 a necessidade de se constituírem ULPC;
  6. Nenhuma destas ações governativas foi acompanhada do indispensável pacote financeiro, exceto no Programa Aldeias Seguras e Pessoas Seguras, a questão que se coloca nomeadamente aos tribunais competentes é, porquê?

Em nossa convicção os sucessivos governos têm sofrido de uma desorientação para a eficácia das respostas de proteção civil e, privilegiado negócios em detrimento de soluções que envolvam efetivamente os cidadãos, as empresas e as autarquias locais.

A falta de diálogo entre as estruturas da Administração Central do Estado, autárquica, local e as Organizações desinteressadamente dedicadas ao estudo e propostas conducentes a atividades de Proteção Civil proficientes, ou não existem, ou não são tidas em conta, dai resultando um conjunto de despautérios e aparentemente negociatas muito úteis a alguns interesses privados, mas funestas ao interesse público no que à proteção civil é atinente.

Não faz sentido algum este programa Aldeias Seguras e Pessoas Seguras se não for pelo marketing político, defendemos a criação obrigatória e o financiamento das ULPC, bem como o envolvimento das OVPC e, integração das tarefas desses programas nestas organizações.

Não faz qualquer sentido ter um programa que aborda somente uma das géneses dos riscos (os incêndios), quando existem inúmeras outras géneses de desastres. Fará sim todo o sentido que tudo isto seja pensado no âmbito da “disciplina” de proteção civil, sem excluir sequer a emergência médica a nível local, outra grave lacuna do nosso sistema cujo seu mau funcionamento faz regularmente vítimas, neste país de faz de conta que tudo está bem e seguro.

Artigo de Opinião
João Paulo Saraiva
Presidente da Direção

Programa “Aldeias Resilientes” da AVIPG é uma deturpação do programa original desenhado pelos técnicos da APROSOC – Associação de Proteção Civil

O programa “Aldeias Resilientes” implementado pela Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrogão Grande (AVIPG) em 2019, é uma deturpação do programa original concebido pelos técnicos da APROSOC e validado pelos participantes no seminário coorganizado entre ambas as Associações em 14 de outubro de 2017.

O programa original não atentava somente aos riscos atinentes aos incêndios, mas sim a todos os riscos no âmbito da proteção civil incluindo a incapacidade de resposta atempada aos casos de emergência médica, com a equipagem das aldeias com equipamentos de socorro em suporta básico de vida e desfibrilhação automática externa.

O programa implementado fere ainda o programa original pelo facto de não integrar as equipas de autodefesa das aldeias em Unidades Locais de Proteção Civil (ULPC) das Juntas ou Uniões de Freguesia, ou em Organizações de Voluntariado de Proteção Civil (OVPC), retirando assim o programa, tal como o governo fez com o falacioso programa Aldeias Seguras, do que estava legislado, as ULPC e OVPC, criando-se portanto programas de legalidade ou pelo menos lógica duvidosa fora da filosofia legal de base para o efeito.

Importa esclarecer que as equipas criadas não estão dotadas de vias de radiocomunicação tática, nem a sua coordenação tem vias de coordenação estratégica caso falhem as telecomunicações de acesso público, ou seja, uma vez mais um projeto de faz de conta que possibilita novas tragédias envolvendo estas equipas sejam elas “equipas de autodefesa das aldeias”, sejam elas “das aldeias seguras e pessoas seguras”. Cria-se na prática uma falsa sensação de segurança que na realidade pode não existir.

Pedrogão Grande, Castanheira de Pêra e, Figueiró dos Vinhos, continuam sem Unidades Locais de Proteção Civil e sem acréscimo de segurança comparativo aos que existia em 2017 em muitas aldeias daqueles concelhos. As vítimas de paragem cardiorrespiratória em algumas localidades (Alge, por exemplo) continuam a ter a certeza de que morrem antes de lá chegar uma ambulância que não chega em tempo útil, sem que alguém tenha sido preparado naquela aldeia ou próxima para assegurar o suporte básico de vida com recurso ao desfibrilhador automático externo para ganhar tempo até chegada de ambulância, viatura médica ou helicóptero.

O país continua a desperdiçar verbas em programas avulso, que deveria concentrar em programas de facto pensados por especialistas. O Programa Aldeias Resilientes da AVIPG nada tem, portanto, a ver com o desenhado pela APROSOC sendo uma deturpação que pode até ter nexo para quem dele participou no âmbito da vertente dos incêndios, mas que não responde às necessidades das pessoas por ele servidas e que em nossa convicção mais cedo ou mais tarde fará inevitavelmente novas tragédias.

Compreendemos  as fortes convicções das entidades envolvidas, mas não validamos tal programa como eficaz e eficiente, pelo contrário.

Notícia de 2019 sobre o assunto

Incêndios: Projeto “Aldeias Resilientes” em Pedrógão Grande devia ser replicado, diz associação

Artigo de opinião
João Paulo Saraiva
Presidente da Direção da APROSOC
Coordenador do grupo de trabalho do Projeto “Aldeias Resilientes”

Créditos Fotográficos: Observador