Programa “Aldeias Resilientes” da AVIPG é uma deturpação do programa original desenhado pelos técnicos da APROSOC – Associação de Proteção Civil

O programa “Aldeias Resilientes” implementado pela Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrogão Grande (AVIPG) em 2019, é uma deturpação do programa original concebido pelos técnicos da APROSOC e validado pelos participantes no seminário coorganizado entre ambas as Associações em 14 de outubro de 2017.

O programa original não atentava somente aos riscos atinentes aos incêndios, mas sim a todos os riscos no âmbito da proteção civil incluindo a incapacidade de resposta atempada aos casos de emergência médica, com a equipagem das aldeias com equipamentos de socorro em suporta básico de vida e desfibrilhação automática externa.

O programa implementado fere ainda o programa original pelo facto de não integrar as equipas de autodefesa das aldeias em Unidades Locais de Proteção Civil (ULPC) das Juntas ou Uniões de Freguesia, ou em Organizações de Voluntariado de Proteção Civil (OVPC), retirando assim o programa, tal como o governo fez com o falacioso programa Aldeias Seguras, do que estava legislado, as ULPC e OVPC, criando-se portanto programas de legalidade ou pelo menos lógica duvidosa fora da filosofia legal de base para o efeito.

Importa esclarecer que as equipas criadas não estão dotadas de vias de radiocomunicação tática, nem a sua coordenação tem vias de coordenação estratégica caso falhem as telecomunicações de acesso público, ou seja, uma vez mais um projeto de faz de conta que possibilita novas tragédias envolvendo estas equipas sejam elas “equipas de autodefesa das aldeias”, sejam elas “das aldeias seguras e pessoas seguras”. Cria-se na prática uma falsa sensação de segurança que na realidade pode não existir.

Pedrogão Grande, Castanheira de Pêra e, Figueiró dos Vinhos, continuam sem Unidades Locais de Proteção Civil e sem acréscimo de segurança comparativo aos que existia em 2017 em muitas aldeias daqueles concelhos. As vítimas de paragem cardiorrespiratória em algumas localidades (Alge, por exemplo) continuam a ter a certeza de que morrem antes de lá chegar uma ambulância que não chega em tempo útil, sem que alguém tenha sido preparado naquela aldeia ou próxima para assegurar o suporte básico de vida com recurso ao desfibrilhador automático externo para ganhar tempo até chegada de ambulância, viatura médica ou helicóptero.

O país continua a desperdiçar verbas em programas avulso, que deveria concentrar em programas de facto pensados por especialistas. O Programa Aldeias Resilientes da AVIPG nada tem, portanto, a ver com o desenhado pela APROSOC sendo uma deturpação que pode até ter nexo para quem dele participou no âmbito da vertente dos incêndios, mas que não responde às necessidades das pessoas por ele servidas e que em nossa convicção mais cedo ou mais tarde fará inevitavelmente novas tragédias.

Compreendemos  as fortes convicções das entidades envolvidas, mas não validamos tal programa como eficaz e eficiente, pelo contrário.

Notícia de 2019 sobre o assunto

Incêndios: Projeto “Aldeias Resilientes” em Pedrógão Grande devia ser replicado, diz associação

Artigo de opinião
João Paulo Saraiva
Presidente da Direção da APROSOC
Coordenador do grupo de trabalho do Projeto “Aldeias Resilientes”

Créditos Fotográficos: Observador