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Trecentésima ativação de radiocomunicações cidadãs da APROSOC

A APROSOC agradece a todos os radioperadores que participaram na tricentésima ativação de radiocomunicações cidadãs. Desde a sua génese em 2015 e, sem contar com todos os projetos Associativos que vieram culminar no que na atualidade a APROSOC é e representa, contámos hoje a ativação de radiocomunicações número trezentos (300), um número que nos dá alento para continuar. A ativação de hoje foi particularmente importante por ter sido geradora de diálogos inclusivos essencialmente na banda do cidadão em canal 10 em AM e também em FM, que trazem de novo aquilo que mais prezamos nesta singela Associação, a cordialidade e a partilha de conhecimentos e experiências.
Pode dizer-se que a APROSOC regressou ao que de melhor existe na banda do cidadão e não só, as comunicações com respeito, isentas de impropérios, onde a amizade e o conhecimento técnico fluem naturalmente.
Há novas e antigas estações nesta nova dimensão, oriundas de organizações ou, sem pertencer a qualquer organização, entrosadas por um denominador comum, a comunicação pela qual nutrem paixão. 

O facto de os QSOś (conversações via rádio) da REDE FÉNIX da APROSOC não passarem a USB ou LSB prende-se com o facto que que as demais organizações existentes tendem a rumar a esses modos de operação, frustrando e excluindo aqueles que somente possuem rádios com AM, ou com FM. Na APROSOC entendemos ser diferentes e ser mais inclusivos, sacrificando a distância que alcançaríamos com recurso às bandas laterais, para possibilitar-mos a comunicação local daqueles que não possuem bandas laterais.
Na nossa experiência ao longo dos anos nos cenários de acidente grave ou catástrofe, deparámos-nos frequentemente com a existência de meios de radiocomunicação que foram inócuos pelos mais diferentes motivos, pelo que, acreditamos que a forma organizada com que promovemos as radiocomunicações locais em CB (citizens band) e PMR446 (personal mobile radio), é pedagogicamente conducente à capacitação dos cidadãos usufrutuários desses meios rádio, para serem resilientes face a situações adversas que os impossibilitem de usufruir das redes de telecomunicações de acesso público.

Tenha sempre presentes as nossas recomendações de procedimentos radiotelefónicos para as radiocomunicações cidadãs…

…limite o seu tempo de emissão contínua a “180 segundos”, dê tendencialmente um espaço não inferior a “3 segundos” entre transmissões para dar oportunidade a outras estações, passe a palavra a outro interlocutor usando a expressão de serviço “escuto” e, quando nada mais tiver a transmitir e pretende encerrar a comunicação termine com a expressão de serviço “terminado”. 

Saiba que estamos tendencialmente em canal 11 AM/FM pela região de Lisboa e, quando uma chamada é correspondida passamos tendencialmente a canal 10 AM/FM.

REDE FÉNIX | amizade, felicidade e segurança via rádio

Opinião: A “utilidade pública” da CB e PMR446

Eu gosto mais de operar em CB (citizens band) FM e AM, porque é mais inclusivo e não tenho de andar sempre a sintonizar de cada vez que do outro lado fala outra estação. Para além disso, na minha experiência nos incêndios, aparecem muitas vezes colegas com jipes e apenas com rádios de AM e/ou FM, e também colegas trabalhadores do mundo rural com esse tupo de rádios, raramente aparecendo gente com rádios com SSB nesses meios e nessas alturas.

Por vezes as informações prestadas por esses colegas são fundamentais para se conseguir fazer chegar meios de socorro a quem deles necessita no meio rural, muitas vezes em zonas onde ou nunca existiu rede de telemóvel, ou deixou de existir devido aos cabos terem ardido.

Também no PMR446 (personal mobile radio) este tipo de interação acontece frequentemente nos incêndios, cheias e inundações, tempestades e outras ocorrências.

CB27 e PMR446 são de extrema utilidade nestas e muitas outras situações de emergência e, a informação trocada por estas vias embora passe despercebida à maioria dos cidadãos dos grandes centros urbanos e aos decisores da administração central do Estado continua a contribuir para que vidas de pessoas, animais e bens sejam poupados.

Acredito veemente que quanto mais rádios CB e PMR446 se distribuírem por comuns cidadãos, pesem embora alguns constrangimentos disso resultantes, mais serão as vidas e bens salvos. Por este motivo dediquei mais de 40 anos da minha vida às radiocomunicações cidadãs, tendo muito cedo compreendido as suas vantagens quando ainda morava em tercena e nas traseiras da casa onde morava entre aquele que é hoje conhecido como IC 19 (morava do lado oposto ao depósito da água de tercena) e a linha férrea de Sintra, um incêndio que terá começado na barreira da linha férrea ameaçava a nossa casa e, o CB possibilitou-me o contacto com os Bombeiros de Queluz. Mais tarde acabei por estabelecer comunicações de teste com as outras corporações de Bombeiros que atuavam na zona, Barcarena e Agualva-Cacém, nessas chamadas de teste respondiam sempre, naquele tempo a maioria das corporações de bombeiros tinham CB, na atualidade a maioria não tem, embora o número de utilizadores CB ativos seja crescente. Mas não é por isso que é menos importante ter CB e PMR446 do que naquela época, pois mesmo sem ser possível contactar diretamente os Bombeiros, consegue-se por vezes que a pessoa contactada contate por outra via ou mesmo se desloque á porta do quartel ou mesmo de uma esquadra ou posto policial e presta a informação recebida no apelo.
Em frente a onde morava e os meus pais tinham o restaurante rústico e os seus negócios de venda de palha, frutas (melão e melancia), pinheiros de natal, terra para plantas, os acidentes eram infelizmente muito frequentes e, no tempo em que o telefone fixo na zona ainda passava pela operadora de central PBX de Tercena dos TLP (Telefones de Lisboa e Porto) a quem tinha de se pedir para ligar para o número pretendido, o CB chegava primeiro, no tempo em que os número de telefone da área ainda tinham apenas 5 dígitos.

Como diziam os colegas de saudosas Associações de Clubes de CB de outrora, “a CB é de utilidade pública” e, podemos aqui acrescentar o PMR446 que em 2017 muito contribuiu para que a catástrofe não fosse ainda maior, que o digam os vigias florestais, tão pouco falados e cujo trabalho tão importante é.

Também devido a estas vivências, nas Associações por onde passei sempre trouxe comigo este desígnio das radiocomunicações cidadãs e, na APROSOC não foi exceção, motivo pelo qual mais de 90% dos nossos Associados têm rádio CB, uns que já tinham, mas a maioria que não tinham e passaram a ter, prosseguindo assim este desígnio que nunca dou por cumprido, porque a cada segundo que passa uns se findam e outros nascem, para a vida, e para as radiocomunicações cidadãs.

O interesse gerado tem sido tanto que, por vezes tenho de fazer reajustes para que as principais atividades da Associação não se centrem nas radiocomunicações, tendo por vezes a sensação que somos uma Associação de amigos das radiocomunicações, alguns dos quais predispostos a colaborar nas radiocomunicações nas situações de emergência, talvez esta mutação venha a ditar o futuro da Associação, já que faz falta e o interesse é inquestionavelmente mais que muito.

Obrigado a todas e todos que se tem deixado contagiar por esta minha paixão, que antes de minha já o era de muitos outros e, depois de mim de muitos outros será nesta passagem por aquilo a que chamamos de vida e que, para mim só faz sentido com causas, sendo esta uma das minhas causas, mas também de todos os que na APROSOC me acompanham neste desígnio.

João Paulo Saraiva
Estação Duke em CB e PMR446