Opinião: A “utilidade pública” da CB e PMR446

Eu gosto mais de operar em CB (citizens band) FM e AM, porque é mais inclusivo e não tenho de andar sempre a sintonizar de cada vez que do outro lado fala outra estação. Para além disso, na minha experiência nos incêndios, aparecem muitas vezes colegas com jipes e apenas com rádios de AM e/ou FM, e também colegas trabalhadores do mundo rural com esse tupo de rádios, raramente aparecendo gente com rádios com SSB nesses meios e nessas alturas.

Por vezes as informações prestadas por esses colegas são fundamentais para se conseguir fazer chegar meios de socorro a quem deles necessita no meio rural, muitas vezes em zonas onde ou nunca existiu rede de telemóvel, ou deixou de existir devido aos cabos terem ardido.

Também no PMR446 (personal mobile radio) este tipo de interação acontece frequentemente nos incêndios, cheias e inundações, tempestades e outras ocorrências.

CB27 e PMR446 são de extrema utilidade nestas e muitas outras situações de emergência e, a informação trocada por estas vias embora passe despercebida à maioria dos cidadãos dos grandes centros urbanos e aos decisores da administração central do Estado continua a contribuir para que vidas de pessoas, animais e bens sejam poupados.

Acredito veemente que quanto mais rádios CB e PMR446 se distribuírem por comuns cidadãos, pesem embora alguns constrangimentos disso resultantes, mais serão as vidas e bens salvos. Por este motivo dediquei mais de 40 anos da minha vida às radiocomunicações cidadãs, tendo muito cedo compreendido as suas vantagens quando ainda morava em tercena e nas traseiras da casa onde morava entre aquele que é hoje conhecido como IC 19 (morava do lado oposto ao depósito da água de tercena) e a linha férrea de Sintra, um incêndio que terá começado na barreira da linha férrea ameaçava a nossa casa e, o CB possibilitou-me o contacto com os Bombeiros de Queluz. Mais tarde acabei por estabelecer comunicações de teste com as outras corporações de Bombeiros que atuavam na zona, Barcarena e Agualva-Cacém, nessas chamadas de teste respondiam sempre, naquele tempo a maioria das corporações de bombeiros tinham CB, na atualidade a maioria não tem, embora o número de utilizadores CB ativos seja crescente. Mas não é por isso que é menos importante ter CB e PMR446 do que naquela época, pois mesmo sem ser possível contactar diretamente os Bombeiros, consegue-se por vezes que a pessoa contactada contate por outra via ou mesmo se desloque á porta do quartel ou mesmo de uma esquadra ou posto policial e presta a informação recebida no apelo.
Em frente a onde morava e os meus pais tinham o restaurante rústico e os seus negócios de venda de palha, frutas (melão e melancia), pinheiros de natal, terra para plantas, os acidentes eram infelizmente muito frequentes e, no tempo em que o telefone fixo na zona ainda passava pela operadora de central PBX de Tercena dos TLP (Telefones de Lisboa e Porto) a quem tinha de se pedir para ligar para o número pretendido, o CB chegava primeiro, no tempo em que os número de telefone da área ainda tinham apenas 5 dígitos.

Como diziam os colegas de saudosas Associações de Clubes de CB de outrora, “a CB é de utilidade pública” e, podemos aqui acrescentar o PMR446 que em 2017 muito contribuiu para que a catástrofe não fosse ainda maior, que o digam os vigias florestais, tão pouco falados e cujo trabalho tão importante é.

Também devido a estas vivências, nas Associações por onde passei sempre trouxe comigo este desígnio das radiocomunicações cidadãs e, na APROSOC não foi exceção, motivo pelo qual mais de 90% dos nossos Associados têm rádio CB, uns que já tinham, mas a maioria que não tinham e passaram a ter, prosseguindo assim este desígnio que nunca dou por cumprido, porque a cada segundo que passa uns se findam e outros nascem, para a vida, e para as radiocomunicações cidadãs.

O interesse gerado tem sido tanto que, por vezes tenho de fazer reajustes para que as principais atividades da Associação não se centrem nas radiocomunicações, tendo por vezes a sensação que somos uma Associação de amigos das radiocomunicações, alguns dos quais predispostos a colaborar nas radiocomunicações nas situações de emergência, talvez esta mutação venha a ditar o futuro da Associação, já que faz falta e o interesse é inquestionavelmente mais que muito.

Obrigado a todas e todos que se tem deixado contagiar por esta minha paixão, que antes de minha já o era de muitos outros e, depois de mim de muitos outros será nesta passagem por aquilo a que chamamos de vida e que, para mim só faz sentido com causas, sendo esta uma das minhas causas, mas também de todos os que na APROSOC me acompanham neste desígnio.

João Paulo Saraiva
Estação Duke em CB e PMR446