SISMO SENTIDO EM PORTUGAL

Ontem parte do país voltou a sentir um abalo sísmico, de baixa intensidade, felizmente, mas o suficiente para fazer algumas pessoas refletir sobre a preparação ou a falta dela para tais riscos.

O jornalista que no seu estúdio, redação ou gabinete não conhece sequer as características de resistência estrutural a sismos do edifício. Um cidadão que passeia numa grande superfície comercial e que sente o sismo, mas repara que não há mesas ou não são suficientes para todos, e que não sabe como se proteger porque apenas se fala de agachar debaixo da mesa. Um adolescente numa escada rolante que fica sem saber o que fazer. Uma jovem que estava deitada na cama a dormir e acorda, mas que repara que não tem uma mesa no quarto onde se agachar e proteger. Uma infinidade de situações não abordadas na campanha a Terra Treme da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil e, da esmagadora maioria dos Serviços Municipais de Proteção Civil, alguns destes que se ligarmos durante a noite estão encerrados ou, como recentemente nos aconteceu em pleno agosto, se ligarmos respondem-nos que “de momento os colegas estão de férias”. Um grupo de cidadãos numa discoteca que sente o chão tremer e crê que faz parte do espetáculo. Um conjunto de cidadãos que estavam a divertir-se na roda gigante de um parque de diversões e sentem tremer e de repente todas as luzes se apagam e tudo para. Isto para não descrevermos todos os cenários possíveis e ainda mais trágicos.

Ficou-nos na memória a imagem na região de Kahramanmaras, na Turquia, em que um pai segura a mão da filha, morta na sequência do terramoto que assolou a Turquia e a Síria.Esta rapariga, ou não sentiu o sismo, ou não teve tempo, ou não soube o que fazer para se proteger. Se repararmos ao lado da cama ficou um espaço paralelo à cama chamado de “triângulo da vida”, mas no nosso e outros países pouco ou nada se fala sobre isto.

Somos o país dos incêndios, onde os demais riscos elencados nos estudos das géneses dos desastres são esquecidos e por isso não se faz preparação e somos totalmente surpreendidos com fenómenos conhecidos e expectáveis como foi o caso da pandemia, por vezes das cheias, e esperemos que nunca sejamos lembrados dos riscos siderais.

Não. Não estamos preparados. Mas na realidade isso pouco parece importar à maioria dos cidadãos, embora exista quem se importe de facto, como é disso exemplo a equipa liderada pela Doutora Claúdia Pinto, do programa RESIST da Câmara Municipal de Lisboa, um programa que deveria merecer prioridade de investimento e replicação em todas as autarquias, mas que não o está a ter.

Face a tudo o que é possível e deve ser feito na prevenção e mitigação, o programa A TERRA TREME é uma gota de água num oceano, que nem baixa a maré, nem o faz transbordar, é praticamente inócuo e, mais cedo ou mais tarde, esta inércia e inépcia governativa, mas também de cada um dos cidadãos, será responsável por uma dimensão trágica e catastrófica, potencialmente mitigável se este assunto fosse uma prioridade.

O que fizeram ontem os cidadãos que sentiram o sismo? Quantos se protegerem? Qual a efetiva preparação? Quantos cidadãos estão preparados para reagir?

A não resposta a algumas destas questões deveriam implicar demissões de algumas figuras com responsabilidade política na proteção civil, pela total ausência de preparação dos cidadãos para a AUTOPROTEÇÃO CIVIL, mas isso é impensável num país como Portugal em que a inércia e inépcia são premiadas.

@sismo #sismo