É uma enorme hipocrisia o que se passa no Escu(o)tismo em Portugal

Valores apregoados que não se praticam, compromissos assumidos que não se cumprem, são talvez alguns dos assuntos que mais indignação geram a quem olha de fora para dentro daquele que é o maior movimento Associativo em Portugal.

Apesar de terem o compromisso de fazer pelo menos uma boa ação por dia e muitos andarem de cruz ao peito, são muitos os que não só não cumprem a boa ação diária, senão mesmo a maioria e, muitos para quem a cruz não os demove das más ações, mas como se isto não bastasse, a hipocrisia da própria estrutura nacional mancha a proficuidade de tão expressiva adesão a este movimento nacional de escotismo, senão vejamos naquilo que estatutariamente nos interessa…

Uma das organizações diz ter um departamento de proteção civil, contudo, embora possuam um curso monográfico de proteção civil para chefias, nem o curso versa todas as géneses de perigos e seus riscos, valorizando mais a organização política do sistema de proteção civil, nem o conhecimento é difundido pelas bases.
Se questionarmos a um pioneiro ou mesmo a muitas chefias o que fazer em caso de risco de acidente sideral, em caso de atentado terrorista, em caso de atirador ativo numa escola, em caso de sismo, em caso de tsunami, em caso de acidente radiológico, ou mesmo como nos devemos preparar para desastres, a maioria dos inquiridos respondem de forma que denota que tais assuntos não são abordados no âmbito da sua formação. As próprias técnicas de socorrismo são uma das lacunas no escutismo e, as radiocomunicações que outrora geminaram o Jamboree no Ar são outra lacuna, a maioria dos adolescentes e jovens daquele movimento nunca utilizaram um walkie-talkie ou não o sabem operar corretamente, sendo mais fácil encontrar antigos escuteiros com esta aptidão do que os mais recentes.

É de facto uma pena que outros interesses se levantem e obstaculizem aqueles que deveriam sobrepor-se, a capacidade de sobrevivência face a uma catástrofe caótica, pese embora o facto de as demais técnicas escutistas serem importantes para a sobrevivência nesses cenários, pode revelar-se insuficiente para a sobrevivência.

Há organizações que não têm recursos para concretizar esta missão e, do movimento escutista que tem condições mais que suficientes para cumprir este suposto desígnio apenas se observam exíguos esforços nesse sentido, determinando assim que muitos daqueles que poderiam ser parte da solução nas situações de acidente grave ou catástrofe, sejam parte do problema.

O potencial deste movimento  para transmitir à sociedade uma cultura de proteção civil é incomensurável, nomeadamente através do efeito de contágio das boas práticas resultantes do conhecimento adquirido, de filhos para pais, mas tal não acontece, não honrando por isso a  memória e obra do seu fundador e revelando a inadaptação ao mundo contemporâneo, mas este não é caso único, o  mesmo se passa em Serviços Municipais de Proteção Civil e em Corporações de Bombeiros, um lamentável desperdício de oportunidades.

Artigo de opinião de: João Paulo Saraiva