ALDEIAS INSEGURAS, PESSOAS INSEGURAS

Nem tudo se resume a evacuar uma Aldeia, há situações em que não há outra solução, mas em muitos casos a evacuação ocorre e tudo fica ao abandono e, por falta de meios, especialmente aéreos, as casas ardem.

Nenhuma aldeia fica segura após a evacuação se não houver emprego de meios adequados em tempo útil. Nenhuma pessoa está segura do destino dos seus bens após evacuar uma aldeia e deixar toda uma vida de trabalho confiada a estranhos.

A prioridade não pode ser evacuar, a prioridade terá sempre de ser salvar, pessoas e bens porque, para muitos não faz sentido a sua vida sem os seus bens e, embora a prioridade deva ser salvar vidas, isso não pode significar o abandono dos seus bens à mercê das vis lavaredas de um incêndio.

A prioridade tem de ser a organização das populações, da sua equipagem, das suas comunicações e da sua coordenação em articulação com as autoridades, para a proteção das suas vidas, dos seus animais e dos seus bens.

O número de vidas humanas salvas e o número de vidas de animais condenados à morte nos incêndios por abandono não têm paralelo.

Se a história nos mostrou que muitas vidas se perderam por não se terem evacuado aldeias, a mesma história também nos tem provado que muitas casas e aldeias têm sido salvas pelos residentes ao apagarem pequenos focos de incêndio que vão surgindo aqui e ali e que assim evitam a perda de casas, edifícios de apoio, animais e aldeias inteiras.

De pouco ou nada adiantam faixas de contenção de 20 metros, com arvores com essa ou mais altura, a altura das árvores deve influenciar também a limpeza da área de segurança necessária.

É muito simplista, inflexível e até pouco ético, passar-se um atestado de incompetência a todos os cidadãos que não vestem uma farda para proteger o que é seu, quando o desejável seria o seu envolvimento coordenado pelas Unidades Locais de Proteção Civil de cada Freguesia.

Ninguém que venha de fora conhece melhor a propriedade do que os que nela vivem ou trabalham.

O que é necessário fazer não está a ser feito, e passa por sensibilizar as populações para os equipamentos e medidas de autoproteção e, não basta fazê-lo nas redes sociais e comunicação social, este é um trabalho para ser feito porta a porta ou nas coletividades locais, leve o tempo que levar. Muitos dos residentes no espaço rural não têm redes sociais, não são dados às novas tecnologias, muitos não são sequer espectadores ou ouvintes regulares dos órgãos de comunicação social.

Embora nessas muito haja ainda por fazer, existem bons exemplos de populações que se organizaram no bom sentido, Casal de São Simão, Ferraria de São João, entre outras. Não é preciso inventar nem legislar, basta que se implemente o que está legislado.