Autarquias são as principais responsáveis pela gravidade dos incêndios

Apesar dos esforços legislativos desenvolvidos e de que resultam alguns diplomas legais de que se destaca o Decreto-Lei 44/2019, a maioria das autarquias continua sem implementar as Unidades Locais de Proteção Civil, muitos autarcas nem sabem bem qual a sua utilidade e o resultado está à vista.

De causa antrópica ou natural, os incêndios sempre existiram e vão continuar a existir e, nunca existirão nos agentes de proteção civil recursos técnicos e humanos, suficientes e capazes de fazer a primeira intervenção atempada e assegurar a consolidação do rescaldo de modo a evitar reacendimentos resultantes de projeções ou novas ignições.

A atual situação é de marginalização dos cidadãos que querem proteger o que é seu ou do seu vizinho, contudo, ainda que seja para realizarem trabalhos de consolidação de rescaldo têm de andar a esconder-se por caminhos secundários para fugir ao controlo das forças policiais. Muitos destes cidadãos têm ferramentas e equipamentos que lhes possibilitam dar um importante contributo nas operações de combate aos incêndios, contudo, proibidos de circular em áreas por vezes já ardidas e em que as forças de combate aos incêndios já abandonaram para responder a outras situações, são por vezes colocados à distância como espectadores a observar o que é seu a arder apenas porque não lhes possibilitaram participar nas operações de rescaldo.

Estes cidadãos deveriam estar integrados nas Unidades Locais de Proteção Civil de cada freguesia, ser apoiados com ações de sensibilização conducentes à sua segurança durante as operações de rescaldo como de apoio às tripulações de veículos das forças que combatem os incêndios, sob a supervisão e às ordens de cada chefe de equipa de modo a ser garantida a sua segurança.

Ninguém conhece melhor a sua propriedade que o proprietário, ninguém conhece melhor os caminhos e atalhos do que aqueles que lá moram, ainda assim são colocados como expectadores à distância, enquanto forças que por vezes vieram de locais a centenas de quilómetros de distância vão combater um incêndio num local que não conhecem, por caminhos que desconhecem, expostas por vezes a perigos que não vislumbram.

Se é verdade que muitos Presidentes de Junta ou União de Freguesias não tomam a iniciativa de constituir Unidades Locais de Proteção Civil, não menos verdade é o facto de que muitas vezes essas propostas são reprovadas por Presidentes de Câmara ou mesmo em Assembleia Municipal.

Aqueles que têm por missão o combate aos incêndios também são humanos, também precisam de apoio, também ficam com os pés lastimados dentro daquelas botas de bombeiros, também precisam da ajuda dos voluntários de proteção civil das Unidades Locais de Proteção Civil, para os encaminharem, para os alertarem dos perigos locais, para lhes indicarem pontos de água, para lhes doarem algum alimento ou água potável para poderem continuar a combater um inimigo tão desigual mas, sem este apoio ora popular e marginalizado que se deseja organizado em Unidades Locais de Proteção Civil, nada do que de pior se observa nos incêndios (número de ignições, duração, extensão e prejuízos) se alterará.

É sabido que o interior têm muitas pessoas idosas e incapazes de integrar as Unidades Locais de Proteção Civil, mas existe ainda gente capaz que não integrada faz apenas parte do problema quando poderia ser parte da solução.

Artigo de opinião de: João Paulo Saraiva
Presidente da Direção da APROSOC