Faz esta noite 4 anos…

Há 4 anos atrás, uma equipa de voluntários de proteção civil da APROSOC de prevenção no incêndio de Pedrogão Pequeno, após apelo à nossa presença por populares que haviam estado no seminário que realizámos no dia 14 em Pedrogão Grande (1º encontro para a autoproteção e resiliência das populações), recebêramos via rádio em canal 2 do PMR446 (personal mobile radio) a informação de vigias florestais de que o incêndio estava prestes a chegar ao Casal dos Bufos (uma pequena aldeia de Pedrogão Pequeno). Face à insistência dos vigias de que o incêndio estava lá a chegar, procurámos junto de populares saber onde ficava a referida aldeia e deslocámo-nos ao local, tendo de imediato sido informados da presença de um idoso acamado numa das casas mais próximas da frente de fogo que se dirigia para ali, prontamente contactei a nossa Estação Diretora de Rede (EDR) posicionada junto ao Hotel da Montanha e operada pelo nosso voluntário e coordenador da área de transmissões João Plácido, que após articulação com o CDOS nos deu instruções para transportar a vítima acamada para o lar da Santa Casa da Misericórdia da Sertã. De acordo com a instrução, a equipa por mim liderada e que integrava também os voluntários Cristina Frade, Vitor Frade e Fernando Miranda, distribuídos por duas viaturas todo-o-terreno, procedemos ao transporte do idoso, tendo naquele momento chegado uma viatura de comando de Bombeiros ao local, cujo trabalho já não presenciámos, mas que foi seguramente muito profícuo já que conseguiram poupar às chamas todas as habitações daquela aldeia.

Na manhã seguinte, em missão de reconhecimento, detetámos uma aldeia onde uma senhora lavada em lágrimas me disse quando lhe perguntei se já tinha ligado 112 ou 117, “como senhor, se aqui não há rede nenhuma”. Prontamente chamei a nossa EDR pelo rádio CB27, neste caso tendo de recorrer a mais potência que a legalmente permitida, e solicitei meios de combate a incêndios para aquelas coordenadas geográficas que informei. À saída da aldeia prestes a ser tomada pelas chamas e após prestar recomendações de autoproteção à cidadã em causa, encontrei uma equipa de Bombeiros do Alentejo que apagava fogo junto à estrada e, de imediato informei o chefe de viatura da aldeia em risco ali a escassas centenas de metros, ao que prontamente aquela viatura de dirigiu para o local e em conjunto com outras que chegaram posteriormente pouparam toda a aldeia às chamas.

Nesse mesmo dia, quando estávamos a sair para regressar a Lisboa, ouvimos em 145.500MHz um colega radioamador que se encontrava numa aldeia próxima de Oliveira do Hospital e que pedia ajuda para comunicar à filha que tinha tido bebé recentemente, que embora tudo tivesse ardido na Aldeia estava em casa de uma familiar e estavam todos bem, mas que não havia qualquer rede de telefone ou internet. Perante o apelo e já na posse do número de telemóvel da filha, procedemos à ligação direta da filha com o pai cruzando manualmente o áudio do telemóvel com o rádio VHF, algo que não se deve fazer mas que entendemos que se justificava.

Pouco tempo antes, em agosto de 2017, uma equipa de 3 voluntários da APROSOC em reconhecimento e avaliação de situação no incêndio que lavrava no concelho de Ferreira do Zêzere, uma equipa de três voluntários da APROSOC liderada pelo então voluntário Miguel Novais, detetou ao nascer do sol graças à perícia do voluntário João Plácido, um incêndio a lavrar junto a uma aldeia onde uma popular já dava tudo por perdido e dizia que já nada havia a fazer. Prontamente comunicámos a situação ao Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS), tendo sido informados de que no momentos não existia disponibilidade de meios para o local. Prontamente o líder Miguel Novais mobilizou os populares daquela aldeia com os seus meios (ferramentas agrícolas, recipientes de água e outros) e com o auxilio do voluntário João Plácido conseguiram debelar o incêndio e assim evitar a chegada às habitações, isto enquanto eu insistia pelos meios de comunicação no envio de meios e, com auxilio de uma pá e um ramo continha pequenos focos de incêndio junto a um caminho de terra batida com auxilio de outro popular, para evitar que o incêndio passasse para o outro lado, o que foi conseguido. Felizmente, quando finalmente chegaram meios de combate a incêndios ao local, pouco mais havia a fazer do que rescaldo, tendo as equipas de bombeiros tido uma irrepreensível e profícua atuação.
Um reiterado agradecimento aos voluntários Miguel Novais e ao João Plácido.

Ao longo dos anos foram inúmeros os casos de ajuda dos voluntários da APROSOC às populações afetadas por acidentes graves ou catástrofes e, nesta modesta Associação de parcos recursos, continuamos a procurar manter a aptidão para quando necessário auxiliar quem necessita.

Reitero por isto o agradecimento a todos os nossos voluntários que ano após ano resistem às adversidades e se mentem de corpo e alma nesta sua Associação de Proteção Civil.

Desde a sua constituição em 2015, 2021 é o único ano em que os voluntários de proteção civil da APROSOC não registaram nenhuma ocorrência de incêndio em que se justificasse a sua intervenção, mas muitas foram as ações de prevenção de acidentes e relatórios de situações de perigo enviados aos serviços competentes, trabalho quase sempre invisível, mas igualmente importante porque, prevenindo evita-se a intervenção.

O nosso agradecimento a todos quantos nos cruzámos nestas nossas missões e, uma palavra de solidariedade para com os sobreviventes, não esqueçam que prevenindo através de ações de preparação e equipagem para o pior é possível evitar tragédias e viver o melhor da vida.

Cidadãos preparados para emergências de proteção civil

João Paulo Saraiva
Voluntário de Proteção Civil