Estar preparado em radiocomunicações locais alternativas

Muitos são os que dizem estar preparados de radiocomunicações para emergências, mas, na maioria dos casos podem desconhecer o que isso significa, já que, sem familiares ou amigos igualmente preparados por perto, de pouco ou nada em algumas situações os seus meios lhe podem ser úteis.

É bonito pensar-se num mundo perfeito em que se chama uma ambulância e ela chega em poucos minutos como acontece na maioria dos casos quotidianos, contudo, mesmo no quotidiano há quem espere 3 horas ou mesmo morra à espera de uma ambulância ou outro meio de socorro ou salvamento. Importa por isso que se o meio de socorro não chega, tenhamos familiares ou amigos que nos levem até à unidade de saúde ou, que sejam capazes de nos socorrer, um amigo médico, enfermeiro, socorrista ou outro profissional de saúde em função da situação pode fazer a diferença. Mas como contacto um familiar ou vizinho para me ajudar se não existir rede telefónica no momento? Como posso pedir socorro se numa catástrofe todos os operadores das centrais 112 ou do centro de orientação de doentes urgentes (CODU) do INEM estiverem ocupados? Como pedir socorro à corporação de Bombeiros com duas ou três linhas telefónicas e igual número de operadores de central? Tudo isto parece muito rebuscado, mas aconteceu inúmeras vezes em Portugal em tempo de cheias e inundações, incêndios, pandemia, temporais, e não só.

As redes de radiocomunicações locais de emergência têm diferentes níveis, sendo o primeiro o do agregado familiar, equipado, mas também treinado. O segundo nível é o comunitário, seja a aldeia, o quarteirão, o bairro. O Terceiro nível é o Tático local, ou seja, a comunidade equipada e treinada, estabelece autonomamente redes paralelas aos serviços de emergência e proteção civil, de modo a complementar a capacidade de tráfego de mensagens, fazendo assim por exemplo chegar em tempo útil à corporação de bombeiros (cujas linhas telefónicas estão ocupadas com pedidos de socorro porque a linha 112 não atende), a informação de que na rua X junto ao número 99, um homem de 82 anos com antecedentes de DPOC foi resgatado de uma cave inundada por vizinhos, encontra-se em hipotermia e dificuldade respiratória e necessita de assistência médica.

Para que tal possa ser possível, isto exige equipagem, validação da equipagem, ou seja, garantir a compatibilidade dos equipamentos, bem como treino, ou seja, garantir que cada um sabe manusear e operar o equipamento que tem, bem como, sabe cumprir os adequados procedimentos radiotelefónicos e, para isto não basta um dos elementos de um agregado familiar, é necessário que vários ou idealmente todos pratiquem, algo quase impossível na esmagadora maioria dos agregados familiares, algo que não faz parte da cultura da sociedade portuguesa que tendencialmente substitui a preparação para a autoproteção por fé.

O ideal seriam as redes familiares e comunitárias, o possível são redes comunitárias pois raríssimas são as famílias em que todos os membros do agregado familiar encaram a realidade em detrimento da fé e do mundo virtual, mas, o concretizável na maioria dos casos face à esmagadora maioria de ausência de interesse dos cidadãos por estes assuntos, são redes táticas civis, improfícuas quando comparadas com a proficuidade de outros exemplos que nos chegam de outras partes do globo, o que infelizmente só nós pode entristecer pelo povo que somos e onde o que importa é quem no mundo coloca mais bolas dentro de uma baliza, enquanto em simultâneo morrem pessoas por falta de deteção, acionamento de meios de socorro, e assistência médica ou de salvamento.

Cá continuo eu a pregar aos peixes, é que nem nos membros dos serviços de proteção civil se observam exemplos a replicar.

Em muitos casos, nem um familiar atende de imediato o telemóvel para resposta a uma situação que pode ser de emergência, um pedido de ajuda ou socorro, ou simplesmente para ouvir as suas últimas palavras. É o povo que somos, gostemos ou não, é o que somos.

Mas felizmente existem bons, escassos, eu diria mesmo raríssimos casos de agregados familiares preparados, são esses exemplos que me fazem acreditar que, ao longo do tempo de vida que me resta, conseguirei contribuir para que mais famílias estejam preparadas em comunicações locais alternativas, aumentando assim a sua chance de sobrevivência face a situações de emergência, sejam elas de natureza médica, polícia ou de salvamento.

Autor: João Paulo Saraiva