Crescente movimento Prepper e Sobrevivencialista em Portugal

Os serviços de proteção civil em Portugal, estão especialmente vocacionados para a gestão e apoio à intervenção, sendo que só num passado ainda muito recentemente despertaram para  a necessidade da prevenção, limitando contudo em muito essa vertente pelo facto de na maioria dos casos serem operacionalizados por quadros oriundos dos serviços de emergência e por isso mais vocacionados para a intervenção do que para a prevenção e mitigação de riscos, igualmente não vocacionados para a preparação dos cidadãos para a autoproteção.

Note-se por exemplo que apesar de serem vários os riscos, os planos de emergência dos edifícios são somente pensados para situações de incêndio, descorando sismos, tsunamis, cheias e inundações, acidentes siderais, acidentes nucleares, químicos, biológicos, entre outros em que os cidadãos não são preparados e nada está planeado.

Tanto por parte da estrutura central de proteção civil, quanto por parte das estruturas municipais de proteção civil, há uma grave lacuna no conhecimento e na capacidade de o difundir a todas as populações, sendo esta a principal razão do surgimento de Associações de Proteção Civil, bem como de comunidades informais, mas bastante proficientes no âmbito da preparação e da sobrevivência, conhecidos como Preppers e Sobrevivencialistas, dois conceitos distintos, mas convergentes. A ausência de estruturas técnicas e científicas no prepping e no sobrevivencialismo possibilitam a existência de alguma distorção conceptual de base científica em algumas matérias, contudo, ainda assim estes movimentos são mais eficazes e eficientes na preparação para um desastre do que qualquer serviço de proteção civil no nosso país. Por exemplo, certamente não conhecemos nenhum serviço de proteção civil em Portugal a preparar cidadãos para técnicas de improviso de ultimo recurso numa evacuação de um edifício colapsado, ou para a correta remoção de vítimas sob os escombros; bem como para a abordagem a ferimentos; a coordenação de equipas locais; as comunicações alternativas; a gestão de stocks de alimentos, medicamentos e outros bens essenciais; e tantas outras, mas, nas comunidades Preppers, sobrevivencialistas ou em algumas (raras) associações de proteção civil, estes temas são uma constante. Por exemplo, relativamente ao risco nuclear, algumas destas comunidades nacionais possuem reservas de comprimidos de iodeto de potássio para proteção da tiroide e, até mesmo tabelas de dosagens em função do peso da pessoa ou animal a proteger, algo ignorado pelos serviços de proteção civil.

O sistema governamental de proteção civil deveria empenhar-se na proteção dos cidadãos face aos riscos coletivos, envolvendo-os e integrando-os como parte da solução integrada, contudo a realidade é algo diferente. Esta realidade aliada ao progressivo aumento da consciência civil de que nunca houve, não há e nunca haverá capacidade instalada nos serviços de emergência de responder atempadamente a todas as emergências em caso de catástrofe, é só por si geradora do crescente surgimento de movimentos, associações e comunidades centradas nestas temáticas.