HIERARQUIA NAS RADIOCOMUNICAÇÕES

Ouvimos por vezes nas radiocomunicações recorrentes atropelos resultantes do facto de uma estação não ouvir outra e, do facto de uma ou várias estações tentarem ajudar sem que essa ajuda tenha sido solicitada. Neste último caso o facto de a ajuda não ter sido solicitada não invalida que o radioperador que crê estar em posição de poder ajudar não manifeste essa disponibilidade, contudo, só deve prestar a ajuda após o diretor de rede lhe confirmar a pertinência dessa ajuda.

O diretor de rede, ou a estação diretora de rede (EDR) como é conhecida nas comunicações profissionais, é a pessoa que numa determinada organização está no topo da hierarquia ou por esta lhe foi delegada tal função. Quando se trate de comunicações que não envolvem organizações, mas sim apenas comuns cidadãos, o diretor de rede é o que iniciou a primeira chamada ou, aquele em quem o grupo reconheça mais capacidade para dirigir ou esteja em posição geográfica estrategicamente mais favorável para assumir essa função.

Por outro lado, em redes com vários canais, como por exemplo na banda do cidadão (CB -citizens band), todos têm igual direito de uso dos canais, sendo que neste caso têm direitos de direção de rede num canal aquele que efetuou a primeira chamada no canal de chamada, ou caso a chamada tenha ocorrido fora do canal de chamada (11), na mesma o primeiro que chamou, todos os que entrem após no QSO devem respeitar o primeiro como diretor de rede, é a ele, exceto se delegar essa função, que compete dirigir e passar a palavra a quem bem o entenda e, sempre que não passar a palavra a ninguém, assume-se que a palavra é dada à estação que transmitiu antes deste.

A direção de rede não deve ser uma forma de busca de protagonismo denotando ser superior a outro radioperador, mas sim antes, uma forma de fazer funcionar a rede de radioperadores com as suas estações num determinado canal, sem prejuízo de a atividade organizada ocorrer em vários canais, nesse caso haverá um diretor de rede, mas poderá se necessário delegar funções em vários adjuntos do diretor de rede.

Quando uma rede funcione em modo “rede dirigida”, a partir do momento em que anunciado pelo diretor de rede que a rede entrou nesse modo, as estações só comunicam entre si após solicitar autorização para usar o canal para contactar outra estação que deve indicar no pedido ao diretor de rede e somente o fará se a autorização for concedida.

Existem redes onde a direção é impraticável, geralmente devido à falta de conhecimento técnico por parte dos radioperadores utilizadores da rede, por exemplo o que se passa frequentemente na banda do cidadão em canais tais como o 22, 31, 34, nesse caso, se existir a necessidade de constituição de uma rede dirigida, por exemplo para resposta a necessidades de comunicações alternativas face a uma situação de acidente grave ou catástrofe, devem selecionar-se canais que habitualmente não sejam tomados de assalto pela lei do mais forte (o que tem mais potência para passar por cima de outros apesar de ilegal), mas onde pela habitual ausência ou adequação de tráfego, seja utilizada a lógica em detrimento da necessidade de autoafirmação de alegada superioridade. Não quero com isto dizer que todos os utilizadores daqueles canais tenham tais comportamentos, pois certamente muitos serão capazes de colaborar numa rede dirigida, mas o risco de tal não acontecer, pelo menos em determinado momento, é elevado.

É também pelos aspetos que aqui descrevi que, não é recomendável que diferentes organizações não agendem atividades para o mesmo canal no mesmo dia e período horário, sem prejuízo dos membros de cada uma poderem participar na atividade de outra organização no canal respetivo, pois a dupla direção num canal confunde a hierarquia.

Podemos assim concluir que, há uma hierarquia nas radiocomunicações, que se respeitada, possibilita evitar atropelos, mas importa por isso que não existam vários radioperadores a assumir a direção de rede num mesmo canal, ainda que ambos sejam lideres por exemplo de diferentes organizações, tal situação geraria constrangimentos de fluxo de tráfego de comunicações no canal.

Harmonia nas radiocomunicações

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João Paulo Saraiva

#01 | CT1EBZ